Uma história para o dia da mãe, e para todos os dias

“Tu nunca sabes o quão és forte, até que seres forte é a única hipótese que tens”. Ouvi a citação num momento de pesquisa. Através de uma reportagem da SIC. E lembrei-me dela. Da minha maninha do coração. Não me lembro da primeira vez que a vi. Mas lembro-me que faz parte da minha vida. Desde sempre. Chama-se Ana Rita. Para mim é e será a Rititas. Sempre. Tem 18 anos mas sei que a chamarei assim até ter 60. Já velhinha. E lembrei-me dela. Naquele momento. Tal como em muitos outros da minha vida. Talvez não haja dia em que não pense nela. Na Rititas. E em simultâneo nesta citação que guardei a lápis de carvão. Conheço a minha memória e sabia que iria querer voltar a esta frase. Simpatizei com ela. Concordei com ela. No fundo, reconheci-a. Consegui vê-la. Muito para além do rosto da SIC. Porque a Rita não teve outra hipótese. Embora as hipóteses fossem muitas. Muitos outros caminhos poderiam ter-lhe tirado a força. Era adolescente. E a mãe tornou-se estrelinha no céu. Quer dizer, Rainha. Eu e a Rititas trocamos muitas sms. Falamos muito. Hoje sabemos um pouco menos uma da outra porque ela decidiu trabalhar. Em vários sítios. E estudar. E tirar a carta. E namorar. E cuidar da avó. E do mano. E do pai. E da casa. Sei lá. Ela não pára. De viver. De nos ensinar a viver. Ela sorri. Ela faz sorrir os outros. Ela tem apenas 18 anos. Mas é assim desde sempre. Sempre foi muito mais mulher do que menina. Sabendo ser criança. E tendo sido adolescente. Sempre foi crescida. Acho que substitui a mãe lá em casa. E sem saber, a mãe preparou-a tão bem. E sem querer, a Rititas interiorizou tudo tão bem. Sou uma maninha tão orgulhosa. Ela dá-me força. Dá-me vida. E foi por isso que a trouxe até ao meu coração de criança. Timidamente, pedi que falasse do dia da mãe. E ela devolveu-me aquilo que eu já sabia. Uma lição de vida. Deu respostas e fez perguntas. Eu limito-me a publicar, porque apesar de concordar com a frase inicial, também sei que nem sempre a única hipótese é ser forte. Há quem escolha outros caminhos. E por vezes com menos razões. No rescaldo do dia da mãe, fica uma história bonita. A história que a Rita constrói todos os dias para continuar a viver e a sorrir. Façamos todos o mesmo. 



















O dia da mãe sempre foi um dia muito especial, vivido desde a infância. Um dia de alegria, de ansiedade, de carinho, mas em especial de muito amor.

Tudo começa na escola, não é verdade? Quando se aproximava o dia, lá vinham os professores com as suas ideias extraordinárias para que nós, crianças, pudéssemos mostrar o amor à nossa mãe, naquele dia tão especial. Comigo sempre foi assim, e eu tinha sempre muita vontade em fazer as prendinhas, não tinha arte nem jeito para o desenho, que era o que mais fazíamos, mas a minha mãe não ligava aos pormenores nem à perfeição, mas sim ao valor. Na escola eu pensava nela, e imaginava as cores que ela mais gostava para puder desenhar com elas, pintar com elas e dessa forma fazer com que sentisse sentir que eu a conhecia muito bem.
 
Era uma diversão… na altura em que trazíamos a prenda para casa, eu tinha de esconder, pois só lhe podia dar no dia a mãe logo pela manhãzinha e aí o meu pai e o meu irmão ajudavam-me sempre a escolher o melhor esconderijo para que ela não encontrasse a prenda.

Este dia, no pensamento de muitos pode ser vivido sempre da mesma maneira, mas eu penso que não… todos os anos era diferente, sabem porquê? Porque nós próprios vamos crescendo, e isso faz com que a nossa visão do mundo também cresça e nos ajude a formar novas ideias, novos pensamentos, e claro, dias sempre diferentes todos os anos, de modo a que não se torne um dia monótono.  

Por exemplo… num ano podia acordar e ir a correr para a cama e encher a minha mãe de beijinhos e carinhos e dar-lhe a prenda que tinha feito na escola, mas no ano seguinte fazer diferente e acordar como se nada fosse para que ela pensasse que eu me tinha esquecido, e de repente surpreendê-la e deixá-la com um sorriso. E muito mais…
 
Para mim o dia da Mãe sempre foi e será vivido como um dia especial, diferente dos outros, mas não só por ser o dia da Mãe, mas também por ser mais um dia da Mãe. Percebem o sentido da minha frase? Para mim, o dia da Mãe não é só um dia no ano, mas sim os 365 dias.

Lembro-me, quando tinha uns 10/11 anos, de sentir uma ansiedade enorme para que o dia da mãe chegasse... mas porquê? Foi nessa idade que a minha mãe começou a lutar contra o cancro. Mas se eu sabia que ela era forte, porque teria tanta vontade que esse dia chegasse? Bom, na verdade, se calhar era para celebrar mais um ano de vida, mais um ano junto dela, mais um ano a partilhar sorrisos, amuos, discussões, carinho, brincadeiras, maluquices e tudo e tudo… Não tinha muita idade é verdade, que sabia eu da vida? Se calhar sabia mais do que imaginava…  

Nessa altura, no dia da mãe foi diferente... Eu acordei e pensei “hoje vou viver com a minha mãe”. Mas porquê? Não seria um dia como outro qualquer? Sim, mas naquele dia dedicado às mães eu podia mostrar ainda mais ao mundo a Rainha que tinha, e que iria lutar com ela todos os dias, para que as duas pudéssemos chegar ao dia da mãe do ano seguinte. Lembro-me de ela me abraçar com muita força e agradecer por me ter, porque apesar de todos os disparates que fazia, ou as guerras com o meu irmão, eu estava sempre lá com ela.

Todos os dias questionava o facto da minha mãe ter sido obrigada a travar esta luta e eu não poder lutar também. Foi nessa altura que me tornei mais forte e comecei a viver cada dia melhor, ou seja, comecei a aproveitar mais, a não fazer tantas birras com isto ou com aquilo, pois pensava que mãe eu só tinha uma e seria para sempre, fosse como fosse. 

Lembro-me de ela me dizer: “A mãe é forte e vai conseguir” e eu sem propriamente ter a noção dizia: “Eu sei que és mamã, e não tarda muito vais ficar boa”. Por azar não foi assim, mas não desistiu. Lutou, lutou e lutou até que Deus quis.

Eu e o meu pai fazíamos uma bela dupla a preparar surpresas. Nesse mesmo ano em que a minha mãe começou a ficar doente, pedi ao meu pai para a tirar de casa, pois eu queria preparar-lhe um jantar-surpresa, sendo que a comida seria feita por mim, tinha penas 10/11 anos… o meu pai fez a parte dele e eu a minha, comecei cedo e aprendi e adorei e diverti-me. Fiz a comida, decorei a mesa especialmente para ela, com a ajuda do meu irmão, que apesar de andar-mos sempre as turras sempre fomos muito unidos… quando ela chegou ficou de boca aberta, não acreditava no que via, fiz um dos pratos que ela mais gostava (o mais fácil de todos para começar ahaha), e assim celebrámos todos esse jantar da forma mais bonita que podia existir.

Hoje, o dia da mãe é igual como sempre foi todos os anos. Ela não está presente fisicamente, é verdade, mas para mim isso não importa porque a pessoa está e estará sempre dentro de nós. 

Perguntam: é estranho? Como consegues viver o dia? Não é estranho, e não é uma questão de hábito... Ninguém se habitua à ausência de uma pessoa tão especial. Consigo viver este dia, como sempre vivi, como sendo o Dia da Mãe. E agora perguntam: “Mas como?” É muito simples! Continuo a fazer o mesmo, a preparar-lhe uma prenda, a acordar e pensar nela, vou visitá-la, dou-lhe beijinhos da forma que só nós as duas bem sabemos, deixo-lhe a prenda, sempre as mais lindas flores que eu encontro, não quer dizer que sejam as melhores flores do mundo, mas basta serem as flores que eu acho que são perfeitas para a minha Rainha. 

Muita gente diz ou pensa “com o tempo vai-se esquecendo, e vai custando menos”. Enganam-se! Pelo menos eu não sou assim. Cada dia a lembrança é maior, a ausência maior, a falta maior, e a dor ainda maior. Para mim a pessoa quando parte, só porque se ausenta da nossa visão não quer dizer que a tenhamos que apagar da nossa memória, e o segredo está aí. A minha mãe está na minha memória e sempre estará. Todos os dias eu penso nela, todos os dias eu fico parada a olhar não sei bem para onde e penso, mas isto não é verdade... A maior parte das vezes o que eu penso é “isto é um sonho e eu quero acordar”, mas depois caio em mim e penso, Não!! Não é um sonho, abre os olhos e olha em frente e pensa. Ela foi para um mundo melhor, o mundo das Rainhas, onde continuará sempre a olhar por ti, e tu fazes aquilo que ela te ensinou e, acima de tudo, fazes tudo o que mais a fará sorrir”. É verdade, é assim que penso, ela partiu e eu fiquei, mas fiquei a representa-la. Se sei o que sei, se tenho a experiência de vida que tenho, a ela o agradeço e por isso aprendi a viver os dias como se fossem os últimos, upss! Fui muito fria??! Não… a melhor coisa que nós podemos fazer é aproveitar cada dia como se fosse o último. Se me apetece ir à praia, eu vou, se me apetece gritar, eu grito, se me apetece sair de casa andar sozinha por aí, eu vou, se me apetece comer tudo o que me vai fazer engordar, eu como, se me apetece… eu faço, porque hoje eu sei que posso e amanhã eu já não sei!

Há pessoas que me dizem: “A menina é forte”, e eu sorrio e digo: “aprendi com a minha mãe”. Choro e muito, aliás sou chorona, sempre fui e sempre irei ser, sou assim, quem não gostar pode seguir. Chorar alivia, sabiam? Não é ser fraco, é apenas expressar algo, como quando sorrio também expresso todos as coisas boas e tristes ao mesmo tempo.

Uma coisa é certa, andar a chorar pelos cantos não resolve, e sabem o que eu faço? Eu sorrio todos os dias porque sei que a minha mãe também sorri ao ver-me, ao ver como cresci, ao ver o que faço e que com ela aprendi. E choro, sim, mas nas alturas que quero. Gosto de chorar sozinha, gosto de chorar e não falar, por isso tenho os meus momentos e nesses momentos a verdade é que nunca estou sozinha, ela está comigo e é isso que no fim me faz sorrir e encarar a vida com mais força.

Por isso, vivam o dia da mãe como sempre viveram, como se sentissem que a vossa mãe estivesse ali, a receber a vossa prenda, a receber o vosso carinho, a abraçar-vos, a agradecer por se lembrarem dela, e não ignorarem o dia achando que já não está presente. Não é verdade, ela vê sempre, aliás, muito mais, ela guia-nos, ela protege-nos e ela guarda-nos…

Sintam-se orgulhosos por terem e continuarem a ter uma mãe que nos gerou, que nos suportou durante 9 meses, que nos deu ao mundo, e que nos ensinou muito do que somos hoje, mãe é sempre aquela ligação forte, MÃE só há uma, para mim é insubstituível e é eterna.

Escrito por Ana Rita Godinho 

Comentários

  1. olhos marejados, coração apertadinho, mas um imenso orgulho na tua maninha. um beijo especial para a Rita.

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